Tepequém


A pequeniníssima vila de Tepequém conta com no máximo 200 habitantes. Fica num cenário bastante peculiar da região amazônica, um Tepuia. Uma típica formação roxosa, que parece uma mesa, por ser plana na sua parte superior. Vista de cima, Tepequém parece-se com uma cratera de um vulcão e há quem diga que essa é realmente sua origem. A região foi bastante explorada pelo garimpo de diamante e ouro. Mas em meados dos anos noventa com a proibição do uso de maquinário para extração de pedra preciosas Tepequém sofreu um grande êxodo populacional. Foi só recentemente que, com a construção da estrada e o incentivo do turismo, a região voltou a desenvolver-se, em poucos anos ja foram construidas 9 pousadas e não há dúvidas que muitas outras surgião. Com suas cachoeiras, poços e deslumbrantes paisagens, se tornará um grande polo turístico para os Roraimenses e principalmente para os habitantes de Boa Vista.

Algumas criancas, já oferecem o serviço de guia para as cachoeiras, serviço que seguramente pode tornar-se uma profissão para as mesmas. Mas criança é criança e é no fim da tarde, cerca de uma hora antes do pôr-do-sol, que todas se juntam para jogar bola no deslumbrante cenário das montanhas de Tepequém. O vento constante espalha a poeira durante o jogo de bola e o jogo só termina quando a luz do céu torna-se menor do que a parca iluminação dos postes da cidade.

São Três as principais cachoeiras:
-Cachoeira do Barata: não se sabe se este nome surgiu porque antigamente haveriam diversas baratas d’água nela, (hoje já não tem mais) ou por que nela, morava um garimpeiro chamado Barata, hipotese mais provável;
-Cachoeira do Funil: tem esse nome devido a um longo trecho que foi dinamitado dentro da rocha pelos garimpeiros. Formou-se como um corredor entre dentro da rocha, por onde passa o rio.
-Cachoeira do Paiva: situa-se no iagarapé do mesmo nome.

Aventura em Tepequém.


Durante minhas viagens, sempre dou um jeito de passar pelo menos uma noite dormindo ao relento em algum magnifico visual. Não faço isso apenas pelas imagens que capto ao entardecer e ao amanhecer, faço isso tmb por ser um momento de encontro comigo mesmo, reflexão e revisão da minha vida. Penso em todas as pessoas que estão ao meu redor, como elas pensam, sentem e vivem e é claro reflito como eu penso, o que sinto e como vivo.

É fato, que sempre nessas ocasiões, a noite nunca é 100% tranquila. Certa vez, eu dormia na boca de uma caverna na chapada Diamantina, e minha “meditação” foi enterrompida por camundongos selvagens tentando roubar o meu queijo… Espantei-os no grito ou espeantei-me com gritos… você escolhe!

Desta vez em Tepequém, fui a um dos pontos altos da Serra, próxima a extinta Vila do Cabo Sobral, onde já moraram mais de 5000 habitantes. Meu Guia, apelidava-se Pat. Já um senhor, negro, com um forte influência indiana que manifestava-se em um turbante branco que sempre usava. Além do turbante branco, na ocasião, Pat usava também uma camisa azul e quem o via de longe certamente acreditaria estar vendo um Smurf…

Ele havia ficado de providenciar, água, colchonetes e uma barraca para a viagem. Além disso levou um isopor com gelo e 10 latas de cerveja. Eu levei apenas meu saco de dormir e o equipamento fotográfico completo que não tenham dúvida, PESA MUITO.

O visual do pôr-do-Sol rendeu boas imagens e as cervejas resolveram a parte de alimentação. Como não pretendia dormir dentro de nenhuma barraca fui logo achando um plato, mais ou menos plano, onde me acomodar.
Pedi para que o guia me arrumasse o colchonete, quando descobri que ele não havia trazido. Humm, isso deixaria a noite bem mais desconfortável, mas ok… Pat o guia ficou em um outro Plato, há aproximadamente 10 m de distância.

Pois bem, me acomodei e comecei devagar em meus pensamentos. Lá pelas tantas, sou surpreendido por algumas gotas…(Não chove na região há aproximadamente 5 meses). Chamei o guia e perguntei pela barraca. Segue o diálogo na íntegra:


Eu: Ei! Camarada, danou-se… Cade a barraca

Pat: Não sei!

Eu: Como não sei? Se perdeu?

Pat: Deve ser…

Eu: Cê deixou cair?

Pat: Acho que sim!

Eu: Caiu la pra baixo? (Tanto o meu plato quanto o dele ficavam a poucos metros de um habismo)

Pat: Acho que sim!

Me conformei com a noite molhada e fria, mas por sorte, a chuva não vingou e tudo isso só serviu pra saber que ele havia perdido a barraca. (foi encontrada no dia seguinte pela manhã, no meio do caminho)

Seguiram-se algumas horas quando ouço o chamado do Guia:

Pat: Ei! Ou!

Eu: Que foi?

Pat: Onde a gente tá?

Eu : Como assim onde a gente tá?

Pat: Onde agente tá?

Eu: Rapaz, eu tô na montanha! Vc eu não faço a menor idéia…

Pat: Que montanha?

Precisei, explicar todo o caminho pro guia se localizar… Ainda incrédulo ele resolveu fazer um fogo pra enchergar melhor.

Em cinco minutos eu visualisava um Smurf, arrancando um grande galho verde de uma árvore batendo em tudo quanto é canto tentando apagar o incêndio que ele começava em cima da montanha… (Impagável… por sorte ele conseguiu…)

O amanhecer foi ,em parte, encoberto de nuvens mas mesmo assim o magnífico visual rendeu boas imagens!

Foi o final de minha estadia na Serra de Tepequém de lá, segui para Uiramutã, um minúsculo município, no centro de uma grande reserva indígena! Palco e motivos de muitas brigas e mortes no estado de Roraima. Talvez vcs tenham ouvido falar da demarcação da reserva indígena da Raposa Serra do Sol. Pois é, cá estou!

~ por Pipo Gialluisi em fevereiro 13, 2010.

2 Respostas to “Tepequém”

  1. Amor! Você não sabe como foi divertido passar um pouco da minha tarde escolhendo as imagens e ler o seu texto sobre Tepequém…. ADOREI! Nossa…e me dá tanto orgulho!

    Ler a história do guia foi sensacional, mas não melhor que ouví-la pelo skype acompanhado do som de suas risadas ao contar! hahaha…

    As fotos estão lindas demais! Lindas….e como sempre te digo, VOCÊ É O MEU ORGULHO!!!

    E como assim….se alimentou de cerveja? Isso faz me lembrar as histórias suas com o Peo….papel higiênico Neve…. hahaha

    Te amo muito! Saudades….mas essas saudades valem muito à pena, você está fazendo um trabalho lindo por aí!

    Beijos
    Ana Deriggi

  2. Tá lindo!!! Lembranças ao Papai Smurf..

Deixe um comentário